quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal perene

Natal Perene

Embora seja uma data cristã, mesmo os não cristãos tornam o Natal especial porque parece que o ar fica impregnado da necessidade de amar, de ser generoso, de se tornar bom, nem que seja por um dia, uma semana. Os Jornais se enchem de artigos sobre o Natal.
Recebem-se mensagens mil pela internet: quer sejam batidas, do tipo: Feliz Natal e Próspero Ano Novo; Boas Festas; etc. Algumas podem ser criativas... porém, observei este ano que as mensagens se tornaram mais amargas do que o usual. Desejou-se Feliz Natal sarcasticamente denunciando as desigualdades e a corrupção política. Ao que me pergunto: por que não podemos deixar o negativismo de lado e nos tornar otimistas pelo menos uma semana no ano?

Deparei-me então com um artigo do Frei Betto, (64, frade dominicano e escritor, na folha de São Paulo, 25/12/2008.) que tocou meu coração. Cito alguns extratos dos textos que mais amei, para não me tornar longa e cansativa. Com isto, desejo a todos um Natal perene!
 

Feliz Natal a quem escapa dos indomáveis pressupostos da lógica consumista, dessufoca-se em celebrações imantadas de deidade, livre do desconforto da troca compulsória de presentes prenhes de ausências. E aos hospedeiros de prenúncios do leque infinito de possibilidades da vida. (...)

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta, e coleciona no espírito aquarelas do arco-íris. E a quem trafega pelas vias interiores e não teme as curvas abissais da oração.


Feliz Natal aos devotos do silêncio recostados em leitos de hortênsias a bordar, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura. E a quem arranca das cordas da dor melódicas esperanças.


Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também a quem mergulha todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identifica a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.


Feliz Natal aos dançarinos embalados pelos próprios sonhos, ourives sapienciais das artimanhas do desejo. E a quem ignora o alfabeto da vingança e não pisa na armadilha do desamor. 


Feliz Natal a quem acorda todas as manhãs a criança adormecida em si, e moleque, sai pelas esquinas a quebrar convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria, que no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé. (...)
 

Feliz Natal a quem se resguarda em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo. 

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar.

Feliz Natal a quem jamais encontrou a pessoa a quem declarar todo o amor que o fecunda em gravidez inefável. (...)


Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão, bordam toalhas de cumplicidades, secam lágrimas no consolo da fé, criam hipocampos em aquários de mistério. (...)

Feliz Natal a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas.


Queira Deus que renasçam com o menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.


Visto em Delírios da Alma

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